Por que continuo crente em 2021?
Crente, evangélica, protestante, cristã. Vario no uso dos termos quando nomeio a minha fé. O mais importante para mim é comunicar que eu busco seguir a Cristo. Aquele que atraiu meu coração no meio de um contexto já religioso. Aquele que se revelou a mim por meio do Espírito Santo e que abriu os meus olhos espirituais para que eu pudesse enxergar como eu estava sem ele e o quanto necessitava dele.
Cristo, aquele a quem pude conhecer mais profundamente nas Escrituras. E me refiro a elas em sua totalidade, Antigo e Novo Testamento. Enfim, essa é a minha fé.Há muito mais que eu poderia falar sobre essa fé. Mas, às vezes, em uma conversa rápida, vem a pergunta objetiva: Você é crente? Você é evangélica? E, quando posso, além de responder que “sim”, adiciono uma explicação do que isso significa.
A vontade de acrescentar alguma explicação vem da dúvida do que aquela pessoa entende por ser crente ou evangélico hoje. São tantas igrejas e tantos caminhos teológicos percorridos. Com algumas eu realmente não me identifico. Mas ainda assim, eu tenho uma resistência interna que luta contra a minha vontade de dar explicações. Idealismo? Ingenuidade? Só sei que mesmo querendo acrescentar uma defesa do que a MINHA fé evangélica significa, em alguns momentos resisto e paro no “sim, sou evangélica. (ponto)”
Corro então o risco de ser julgada e catalogada com “sabe-se lá” qual imagem de evangélico que a pessoa já carrega em seu imaginário. E exercito a minha fé, desejando que Deus me dê uma oportunidade de caminhar um pouquinho mais com essa pessoa para que ela possa compreender.
Faço isso, fugindo da presunção: “se ela andar mais comigo, vai ver o que é ser crente de verdade”. E buscando a honestidade: “se andar comigo, vai poder me conhecer com meus defeitos e pecados e - queira Deus - a graça dEle será evidente e apontará para Jesus. No fim, vou poder mostrar que tudo o que eu tenho não é mérito meu, mas é resultado da graça de Cristo em mim.”
Não faço aqui um tratado sobre o que é ser evangélico/ crente em 2021. Só compartilho as minhas divagações. Pense bem: em um mundo recheado de informações, será que uma explicação do que é ser “evangélico de verdade” é o que mudará a nossa “reputação”, diante daqueles que não compartilham a nossa fé? Vejo que a diferença que podemos fazer está em vivermos na prática o que Jesus nos ensinou, apesar das nossas imperfeições.
Estou insistindo nesse ponto dos pecados, defeitos, falhas, porque isso é uma parte do motivo pelo qual continuo nessa fé. Jesus veio buscar os perdidos. Uma das premissas essenciais para um evangélico é entender que ele, como um perdido encontrado por Jesus, nunca mereceu a salvação. Talvez essa verdade continue soando chocante, especialmente para mentes já banhadas nas águas da culpa religiosa. Que sempre entenderam a religião como um resultado do esforço próprio. E Deus como aquele que - mediante esse esforço - se compadece dos que conseguem um bom desempenho. Mas, para os crentes em Jesus, não tem jeito. Começamos pela fé, por meio da graça e seguiremos assim.
Se não fosse a graça de Deus jamais seríamos capazes de fazer algo bom. Em outras palavras: se há algo de bom em nós, é fruto da ação amorosa do nosso criador.
Por seguir crendo nisso e por enxergar evidências ainda mais fortes ao longo dos últimos anos, que reforçam o favor imerecido de Deus, eu sigo dizendo que sim, sou crente, sou evangélica.
E nos momentos em que fica difícil se identificar como uma evangélica, em que olho ao redor e encontro razões para lamentar a situação da igreja hoje? Eu me lembro de tantos que percorreram esse caminho antes de mim. Uma generosa nuvem de testemunhas, que me mostra que, é possível sim, perseverar sem perder a fé. Espero poder honrar o legado que inúmeros irmãos deixaram, por vezes abrindo mão de suas próprias vidas.
Como uma crente de 36 anos, que vive em 2021, quero obedecer ao chamado de Deus para a minha geração. E quero poder fazer isso sem me esquecer das minhas origens protestantes. Eu colho as bençãos da Reforma. E me alegro muito em poder ser parte da sua continuidade.
Sem ingenuidade, sem idealismo, ciente de muitos problemas que enfrentamos, e que dificultam a nossa unidade. Mas convicta também, do nosso desejo genuíno de seguir Jesus (e nada mais) revelado nas Escrituras.
Fazendo um acréscimo ao tema, como alguém que acredita - Idealismo? Ingenuidade? - nessa igreja, eu sou econômica nas minhas críticas a ela. Não que eu não enxergue inúmeros pontos a serem melhorados (especialmente em mim, que sou parte dela). Prefiro orar, e -se é algo que realmente está no meu alcance de atuação- falar diretamente com as pessoas envolvidas. Não acho que compartilhar as nossas críticas à igreja em geral nas redes sociais vá de fato provocar alguma mudança. Há críticas e críticas. Há pessoas apaixonadas que se perdem nas palavras ao defender seus ideais. Mas há também corações corrompidos pelo pecado se aproveitando desse espaço para ofender, ferir, destruir se possível fosse.
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