Rastro de flores

Lá estava o palito com os dois tracinhos à mostra. E lá estavam os mais novos pai e mãe com as caras de surpresos, felizes e assustados tão comuns nesse momento. - "Agora é para valer, estou mesmo grávida!" Era dezembro de 2013.

Um misto de emoções morou em meu coração nos próximos meses. Uma felicidade que me fazia enxergar o mundo mais rosa. Afinal eu teria uma menina. E não minto ao contar: por uma feliz coincidência as árvores com flores rosas deixavam seus rastros pela rua em que eu caminhava diariamente. Era um lembrete tão singelo de que alguém estava chegando para deixar o meu caminho mais bonito."Eu vou ser mãe!"

Por outro lado um medo pesado da responsabilidade já estava sobre mim. Nos próximos anos, Deus me usaria como um instrumento para cuidar de um ser extremamente dependente de mim e do meu marido. "E se eu não der conta? E se eu falhar? Será que consigo?"As interrogações povoavam a cabeça. Ai ai ai, "Eu vou ser mãe!"

No meio de toda a novidade, as escolhas da maternidade começaram a se apresentar. Dentre elas o parto. Sempre foi tão natural para mim, optar pelo parto normal, Foi assim que a minha mãe me teve, e assim eu me imaginava tendo os meus filhos. Mal sabia eu que uma escolha, a princípio despretensiosa pelo parto normal, me colocaria no meio de um debate que tem se aflorado nos últimos tempos do Brasil.

Ao optar pelo normal, não o fiz por militância. E ainda hoje não defendo o parto normal como uma regra. Acredito que ele tem o seu lugar, assim como a cesárea. Mas me entristeço ao ver mulheres que nem sequer consideram essa opção. A primeira vez que mencionei a minha escolha para a  ginecologista do pré natal, não poderia ter uma resposta mais desanimadora. "É, vamos ver como vai a ser a sua gravidez, né?"

A partir daí, me preparei para o parto por conta própria. Li livros e sites que me deram informações suficientes para que eu entendesse o que viria a acontecer. Mas na hora... Eu fui só emoção! Cheguei à maternidade pela terceira vez já prestes a ter a Cléo. Meu marido me perguntou se eu queria que ele mostrasse o plano de parto para a equipe médica. Só respondi: "Léo, não quero saber de plano de parto, só quero que essa menina nasça!"

Não tem como descrever a maior emoção que já senti na vida. Deus foi muito bondoso comigo. Eu encontrei vaga no hospital na emergência (essa era a única maneira de ter o parto normal, já que não pude contar com a minha médica). Tive uma boa equipe médica comigo. E um trabalho de parto rápido - cerca de uma hora e meia depois, Cléo já estava em meus braços.

Nesses 11 meses de vida da Cléo eu já vivi muitas outras aventuras ao descobrir como é ser mãe. É mesmo um amor incondicional. E também percebi que as escolhas que fiz na gravidez eram só o começo de muitas outras que faço e ainda farei envolvendo a vida da Cléo. Por exemplo, escolhi continuar amamentando ela até hoje e mais uma vez, assim como na escolha pelo parto normal, isso me coloca em uma posição polêmica, nem sempre compreendida.

Se posso compartilhar algum aprendizado desses primeiros momentos como mãe, eu falaria que a maternidade é uma arte de fazer escolhas. Eu quero fazê-las de formas consciente, e coerente com as convicções que tenho formado. Mas também quero ser capaz de respeitar o próximo e não impor os meus posicionamentos a ninguém. Quero respeitar e ser respeitada. E quero ser livre para ser a mamãe da Cléo, para amá-la e ajudá-la a ser alguém que deixe o seu rastro de flores não só em meu próprio caminho, mas em todos os lugares por onde ela passar.

Comentários

Unknown disse…
Minha escritora favorita. Amo tudo que você escreve. Deus te abençoe.
Unknown disse…
Minha escritora favorita. Amo tudo que você escreve. Deus te abençoe.
Unknown disse…
Carollllllll, que lindo! Essas interrogações que povoam a nossa mente, nos deixam loucas! Mas, nada pior que a interferência alheia. Sabe, eu tb procuro ler e conversar muito com outras mães. Afinal, a gente tb aprende assim: ouvindo sobre as experiências de outras pessoas. Porém, nada pior que os olhares que nos laçam qd os assuntos são parto e amamentação. Eu tb respeito a decisão dos outros, apesar de ter a minha opinião. Mas, incrível como temos que ouvir coisas de pessoas que nem conhecemos!!!! Todo mundo de olho no meu peito!!! rs Parece até ofensivo amamentar o Lucas em público. Ele ainda mama?!!! - sempre tem essa pergunta. Não sei pq o espanto, meu filho é um bebê! Não é isso que os bebês fazem? rs Até sobre se agasalho ele, se protejo seu ouvido de barulhos muito alto ou do vento, se entrometem. E, de novo, justificando a idade e o tamanho dele (que é gd pra idade). Sério, não ligue para isso. Infelizmente não é a única. Não por vc, mas por ver que tem muita gente chata e enxerida de norte a sul do país. rs Faça o seu melhor pela Cléo e ela irá compreender e te agradecer. A Cléo só precisa de uma mãe e ela é vc! Confie na sua capacidade. O resto se ajeita. A Cléo encontrará o melhor caminho de te fazer a mãe que ela precisa. Bjs

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