Abanador

Está quente. Muito quente. E parece que as poucas águas de março que cairam, não ajudaram muito, até agora.
Enquanto isso, vamos tocando a vida nesse Rio de Janeiro. Lugar comum, quando se fala da nossa cidade é tocar no tema violência. Ultimamente esse assunto vem sendo explorado mais do que o "normal" nos meios de comunicação. Nos chocamos, até choramos com notícias carregadas de emoções fortes. Desespero, dor, ódio, revolta. Folhear as páginas de qualquer jornal (repito QUALQUER jornal... do mais "chinfrim" ao mais elitizado) é estar disposto a ler matérias inúmeras que fazem da tragédia um espetáculo. Tenho para mim que esse sensacionalismo banaliza os atos bárbaros. É todo dia a mesma coisa, sendo tratada da mesma forma.
Outro dia vi algo que me fez pensar em escrever esse texto aqui. Estava em um auditório da minha universidade. O local se encontrava cheio e o ar-condicionado não funcionava. Pelo salão, enquanto o palestrante falava, ouviam-se pequenos ruídos de abanadores. Cada um buscou em suas bolsas e mochilas um "papelzinho" para se refrescar. Na cadeira à minha frente, um menino se refrescava abanando um jornal dobrado. A foto da capa me chamou atenção: era uma senhora negra chorando. Depois de terminada a reunião pedi ao garoto que me desse o jornal. A manchete dizia: "Agora quem chora é a mãe do Thiago".
Fiquei pensando como o jornal é tão descartável com suas notícias, por mais tristes e apelativas que sejam. Aquela edição serviu de abanador e provavelmente para inúmeros outros fins. Embalar ovos, forrar o chão da cozinha para proteger da gordura, tapar alguma janela sem vidro.
O tempo passa e depois do susto, do choro, da raiva, parece que nos esquecemos e continuamos a viver normalmente. Achamos que nada aconteceu, tudo está em seu lugar, essas coisas são naturais, já estamos acostumados com isso mesmo.

Comentários

jupepper disse…
ehhh ... o que antes chocava agora é tão banalizado que começa a ser visto como normal ...

ps: e tava mt quente mesmo hehe

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