Olha o aviãozinho

Uma breve “retrato sociológico” do comportamento em grandes eventos públicos

Sim, eu não tinha grana para viajar no último feriado (sábado, 21 de Abril). Sim, eu fui uma das mais de 1 milhão de pessoas que estavam na enseada de Botafogo para ver a Corrida de Aviões.
Na sexta-feira à noite, liguei para um amigo perguntando: você acha que vai ser legal, essa tal de Corrida de Aviões? Depois de convencida, estava marcado com uma galera de seis, sete pessoas... 12:30 h na entrada do Botafogo Praia Shopping. Pois é, eu realmente pensava que essa era uma idéia super original, e que facilmente eu chegaria ao local de metrô e acharia os meus amigos no ponto combinado. Pura ingenuidade. Assim como eu, milhares de pessoas que se dirigiam para o “grande evento” pensaram o mesmo e se surpreenderam quando se depararam, por exemplo, com a fila do metrô de Del Castilho, que tomava toda a passarela.
Enquanto eu esperava na fila, de baixo de um sol quente, que tem se tornado típico do outono carioca, só me restava ouvir a conversa alheia. E por vezes essa é uma divertida ocupação. Um homem de meia-idade conversava com a sua mulher. “Pois é, você achava que nós seríamos os únicos a ter essa idéia? Deixar o carro no shopping, para depois pegar o metrô?” De fato, foram muitas as idéias para chegar até o evento, com um mínimo de transtorno e demora possível, mas quando se reúnem mais de um milhão de pessoas, é muito difícil ser assim tão criativo e ter uma idéia exclusiva.
E lá estava eu, ainda na fila do metrô... quando consigo entrar finalmente na estação e me aproximo do guichê, aguardando para pagar a passagem, uma propaganda me chama atenção, resumidamente dizia que se eu tivesse comprado um bilhete múltiplo não precisaria ter enfrentado aquela fila. Nunca uma publicidade foi tão direta comigo, me senti uma idiota de ter esperado tanto tempo, mas enfim, já estava ali e conseguira comprar o meu bilhete. Agora era só entrar no trem e pronto.
Não sei se já falei isso, mas... nada é tão simples assim, quando um milhão de pessoas se locomove para o mesmo ponto da cidade. O metrô estava lotado, mas diferentemente do que acontece durante a semana, as pessoas não estavam estressadas (pelo menos quem conseguia entrar no vagão) e se divertiam com a situação. Gritos de “uhuuul” e brincadeiras com quem ficava para trás “qua qua rá... ficou a pé!” eram ouvidos o tempo todo. No Estácio, ao fazer a transferência, mais gritaria sempre que um trem chegava na plataforma. Quem teve a idéia “original” de deixar o carro no centro da cidade para seguir de metrô, “Ficou a pé! Ficou a pé!”.
Prossigamos nesse sábado dos aviões. Descer na estação de Botafogo nem foi difícil, bastou apenas me deixar levar pela massa que ia para o mesmo evento. Enquanto subia a escada, olhei para trás e vi uma multidão que tomava toda a plataforma. Algumas pessoas aguardavam próximo às catracas da estação e usavam seus celulares com câmera para registrar o momento – tudo era festa. Ao subir para a superfície, lá estavam os aviões dando piruetas no céu.
A praia estava tomada de gente, a pedra que contorna uma parte do aterro do Flamengo se transformara numa arquibancada e outros lugares inusitados também serviram de espaço para o público ávido por ver o espetáculo aéreo. Os prédios de frente para a enseada também estavam lotados. As pessoas se grupavam nas varandas e janelas. Uma amiga que estava no meu grupo conhecia um desses moradores, mas o apê com uma única janela para a enseada já estava cheio. O jeito foi ir para a praia mesmo. Mas antes, fizemos uma parada para lanchar. Aliás, os donos de restaurantes, barzinhos e lanchonetes, dentro e fora do shopping, foram provavelmente os mais felizes nesse dia. Não havia uma birosquinha sem fila. Depois de abastecidos, encontramos nosso lugarzinho ao sol para ver os aviões – era para isso que estávamos ali né? Depois de engarrafamento, metrô lotado, celular sem funcionar etc etc conseguimos enfim curtir as manobras aéreas. A essa altura a corrida já estava nas finais, o que nos rendeu assistir a quatro apresentações e no final, um show de acrobacia do piloto brasileiro. Por falar em Brasil, essa foi a primeira vez que esse campeonato aconteceu em nossa terra, mas apesar da grande presença de público, quem falava em português era o “animador”, o locutor mesmo, narrava tudo em inglês.
Confesso que se eu soubesse de todos os “poréns” antes de sair de casa, teria escolhido um sábado mais tranqüilo, até mesmo alugando um dvd. Mas, a saída valeu, pelo menos pela presença dos amigos. Depois de terminado o show aéreo, nem pensávamos em voltar para casa imediatamente e passar pelos mesmos perrengues. Fomos andando para o Rio Sul. Como já era de se esperar - muitas pessoas tiveram a mesma idéia – e enquanto passávamos pelo túnel, a multidão gritava “Uhuul! Uhuul!”, achando graça do seu próprio eco.

Comentários

Lily disse…
rsrsrs!
Isso é verdade! Pensamos que os outros naum vã oter a mesma idéia!
bju
jupepper disse…
ehhh texto novo!!
uhuuuuu

confesso que depois de ler o texto fiquei com um misto de alegria e tristeza por não ter ido ... afinal apesar dos pesares são essas coisas que nós vamos contar para os nossos netos ... e escrever no blog, claro. hehe

bj
Joseane Gomes disse…
Amei a narração do nosso dia.. e q pena q Ju nao foi :)
bjao
Rebeca Martins disse…
ual!!só um mês depois eu li a sua maravilhosa narração!!
Esse dia foi inesquecivel!rs
bjs
beck

Postagens mais visitadas deste blog

Fundo de Tela

Rastro de flores

Por que continuo crente em 2021?