Ela é

Maravilhar-se ainda é algo ao qual quer se apegar. Mas agora parece tão distante, abstrato. Tão diferente de uma vida concreta como a que tem hoje.

É concreto o cachinho dourado. E também são concretas as fraldas, lenços umedecidos e o cheiro do cocô. Os brinquedos nos quais tropeça. Os gritos, os choros. A comida deixada no chão. O abraço. O beijo molhado de baba. As primeiras palavras. As birras já não inocentes.

Em um mundo de concretudes ela é resistente e ainda mantém guardada, às vezes tão escondida que perdida ou esquecida, a esperança do maravilhar-se. Inclusive e talvez principalmente, ela espera ver a maravilha em meio a esse concreto.

Em forma de cachinhos com suas curvas arquitetônicas refletindo o brilho do sol que entra pela janela. Em forma de fraldas sujas acompanhadas com a gratidão de que vai tudo bem.  Dos brinquedos que colorem e preenchem a casa e a fazem aceitar a bagunça da vida. Dos gritos e choros que terminam por amolecer seu coração. Da comida deixada no chão que se torna apenas um detalhe diante da satisfação de uma refeição feita. Do abraço e do beijo babado que não há quem pague. Das primeiras palavras comemoradas com tanto entusiasmo. Das birras e com elas o sentimento de assombro – Quando foi que me tornei responsável por educar alguém?

Céu, sol, lua estrelas continuam com seu encanto. Mas é uma arte ainda mais avançada ver a beleza do caos. O belo do dia árduo e áspero. A maravilha está lá também. Há poesia nesse mundo preenchido de novidades, alegrias, tristezas, recompensas e frustrações.


Ela é resistente. Tem toda uma vida pela frente para insistir em ter esperança. Para acreditar em cada recomeço e chance que Deus lhe dá. Ela é uma maratonista com paciência que ela mesma não sabe ser capaz de ter. Não é uma heroína, é sobrevivente. Não é uma vítima, é agente. Ela acerta, ela erra, ela continua o seu caminho. Ela é mãe.

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